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A riqueza da música experimental em São Paulo

08/06/2011

Começa essa semana a Conexões Sonoras, uma mostra focada na confluência entre a música experimental e outras linguagens artísticas. A Ugra fala um pouco de como será esse evento e faz um breve histórico de seus idealizadores, o coletivo Ibrasotope.

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Por: Leandro Marcio (le_marcio@yahoo.com.br). Fotos: divulgação.

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A partir dessa próxima quinta-feira, o Museu da Imagem e do Som (MIS) abrigará a Conexões Sonoras 2, que promete ser um dos mais importantes acontecimentos para a música experimental aqui em São Paulo.

Em sua segunda edição (a primeira ocorreu em 2010) Conexões Sonoras será um evento calcado no “experimentalismo e rigor, imersão e agenciamento, interatividade e diversidade de concepções estéticas”, onde a música experimental encontrará a poesia, a dança e o teatro produzindo novas e excitantes criações.

O evento terá a apresentação de cinco trabalhos entre os dias 9 e 12 de junho. A entrada será gratuita em todos os dias. Eis os trabalhos:

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Atemporal: vídeo-poema-instalação de caráter interativo [veja mais]

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Corso: instalação que visa remontar um estúdio de gravação e mixagem de som [veja mais]

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deCapitu: performance musico-teatral que, através de elementos eletroacústicos e uma “linguagem em estado de grito”, apresenta uma leitura do clássico machadiano Dom Casmurro [veja mais]

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Trio: (poli)obra que, em sua estrutura complexa, visa combinar dança, música experimental e campos de luz diversos (lanternas, abajures, etc). [veja mais]

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Ovo: peça colaborativa obtida através da gravação de sons ambientes e modificados pela interação com o público [veja mais]

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Um aspecto relevante da mostra é o compartilhamento dos processos criativos, permitindo que o público interessado entre em contato com as idéias dos artistas, meios de criação e posturas estéticas. Para acompanhar este processo criativo foi criado o blog do Conexões Sonoras 2. Soma-se a isso as mesas redondas que serão realizadas durante o evento, excelente estímulo à reflexão e à circulação de ideias sobre a criação artística atual.

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Compromisso com a Música Experimental

A mostra é uma iniciativa do coletivo Ibrasotope, que iniciou sua trajetória em 15 de novembro de 2007 em sua ampla sede no bairro Vila Conceição, zona sul de São Paulo. Os concertos mensais, as oficinas, palestras e outras intervenções organizadas pelo Ibrasotope visam criar um ambiente propício para a produção, debate e divulgação da música experimental na cidade de São Paulo e, também, favorecer o intercâmbio com produtores/admiradores de outras localidades.

A fórmula tem funcionado: de atrações de outros estados como o catarinense Peter Gossweiler  e o curitibano (e velho aliado da Ugra) Yersiniose  até nomes internacionais como o austríaco Bernhard Gál  e o japonês Tetuzi Akiyama  já se apresentaram na aconchegante sala do Ibrasotope. Abrigar artistas com propostas tão diversas está em perfeita sintonia com a abrangente conceituação que o coletivo desenvolveu sobre o que é música experimental: para os ibrasotopeanos, ela compreende tanto uma produção ligada à atuação acadêmica (em geral denominada “música contemporânea de concerto”) quanto aquela ruidosa produção que se desenvolve no mais obscuro underground (e aí se enquadram o harsh noise, instrumentos faça-você-mesmo, pop experimental, etc).

Esse compromisso com expressões musicais absolutamente distantes do gosto popular faz das apresentações mensais no sobrado da rua Januário Miráglia uma experiência intimista incomparável. Mais do que isso: servem como antídoto necessário para uma contemporaneidade que confunde/mescla cultura e entretenimento, dois conceitos diferentes. É graças a essa mescla que, praticamente em todos ambientes onde há música, ela serve apenas como trilha sonora para acompanhar o consumo de drogas e para os já demasiados conhecidos rituais pré-copulatórios. Que isso ocorra ostensivamente não representa um “problema” e é, em qualquer sentido, irrelevante. O importante é reconhecer os eventos onde a fruição estética de música ocupe o papel de protagonista, anos-luz distante de qualquer outro interesse que não seja ouvi-la com a devida atenção.

Com essa proposta de inteira dedicação à música experimental, o Ibrasotope produziu, além dos concertos mensais em sua sede, diversos outros eventos, como a participação na Mostra Sesc de Artes (2008) e no projeto CCJ Experimental (2010), além de ter realizado duas edições do Festival Ibrasotope de Música Experimental, reunindo no total mais de vinte artistas brasileiros dedicados à música eletroacústica, drone, improvisação e outras vertentes.

Além dos concertos, o Ibrasotope também promove saborosíssimas oficinas  sobre circuit bending, improvisação e outros temas relacionados com música experimental. Um prato cheio para aqueles que querem construir seus próprios instrumentos e enveredar pelos caminhos da livre experimentação, a preços acessíveis.

Pelo jeito, esse pessoal não vai parar tão cedo. Sintoma de que a cena experimental está em franca ebulição, o Ibrasotope é uma iniciativa que admiradores de música em geral deveriam conhecer. O pré-requisito é uma abertura para escutar além daquilo que nos foi ensinado como “belo”, “harmônico” e “verdadeiro”, é compreender que nem sempre a música que excita o corpo a dançar é a melhor. Algumas podem ser um convite para a introspecção, para a fúria ou mesmo apenas para uma atenta apreciação dos sons. Afinal, não é exatamente isso – uma seqüência de sons – do que se trata a música?

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Conexões Sonoras 2
A partir de quinta-feira 09 de Junho, no MIS
Endereço: Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo/SP
Telefone: (11) 2117 4777
Programação Completa: www.ibrasotope.com.br/conexoes2
Site do MIS: www.mis-sp.org.br/comovisitar
Site do Ibrasotope: ibrasotope.com.br

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