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Entrevista: Vakka (Intervalo Banger)

23/06/2011

Vida inteligente na mídia METAL brasileira!
Conheça Vakka e seu Intervalo banger.

Por Douglas Utescher (douglas_utescher@yahoo.com.br) e
Leandro Marcio (
le_marcio@yahoo.com.br)

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Vergonhosamente brega ou surpreendentemente vanguardista; severamente conservador ou audaciosamente liberal; modestamente simples ou desafiadoramente complexo: poucos gêneros musicais sobrevivem em meio a tantas contradições quanto o metal. Com toda essa diversidade, a imprensa dita “especializada” brasileira – tradicionalmente atrasada, vendida e preconceituosa – tem quase sempre optado pelo pior. Para manter-se informado, resta ao fã recorrer aos zines (cada vez mais raros nesse meio) e a um ou outro blog. E é aí que entra nosso entrevistado de hoje.

Vakka, paulistano e são paulino, concebeu o Intervalo Banger a partir de uma idéia muito simples: criar um canal para escrever sobre a música que ele gosta para as pessoas que também gostam dela. Mas ao injetar nisto uma boa dose de inteligência, um senso de humor anárquico e uma incontrolável paixão pelo assunto abordado, acabou transformando seu blog em leitura obrigatória para os amantes do metal mais, digamos, “esclarecidos”.

A Ugra foi conversar com o rapaz e entender melhor o que passa em sua cabeça.

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Como e quando surgiu o Intervalo Banger?

O Intervalo Banger (IB) surgiu há pouco mais de um ano. Era um domingo preguiçoso, chuvoso e eu levantei tarde; estava sem muita coisa pra fazer e resolvi criar um perfil no Twitter só para falar de música (depois de alguém do trampo dizer que era impossível me seguir no Twitter porque eu era chato, só falava de música que ele não entendia absolutamente nada). Bom, sentei em frente ao computador com um naco de pizza amanhecida de um lado, neosoro do outro e resolvi criar um logo. Fiz uma meia dúzia de variações e fui pedindo opinião para uma galera. Meia hora depois tinha um logo e um twitter criado, pronto para falar de música com quem quisesse falar do tema.

Pouco tempo depois rolou o show do Kool Metal Fest com o Napalm Death e o Suffocation, e uma galera que sabia que era eu por trás do @intervalobanger comentou que o perfil estava massa, mas que tinha que rolar um blog, para postar conteúdo em vez de só encher o saco do povo lá no microblog. Na semana seguinte tinha um blog pronto (graças ao suporte do Mário, o batera que toca comigo), um Twitter rodando e a menor idéia do que fazer com aquilo. O instinto de zagueiro falou mais alto. Baixei a cabeça e saí fazendo na doida, heheh.

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No início era só você que escrevia todas as postagens, mas em posts mais recentes vemos a colaboração de outras pessoas. Como funciona isso? Você atua como editor chefe do site ou é algo mais democrático?

Cara, todos os posts do IB ainda são feitos por mim. Na verdade a idéia era que rolasse participação e colaboradores e tudo o mais, mas há dois motivos que dificultam esse processo.

O primeiro é a dificuldade técnica. A plataforma do Tumblr não permite criação de perfis para outros usuários. Por vezes ameacei migrar para WordPress e Blogger, comprei até o domínio .com.br, mas sou um tapado com essas coisas. Até agora não dei um passo com isso.

O segundo motivo é que eu curto falar de poucas coisas além de música. Preciso de ajuda psicológica, eu sei, mas não quero mudar. No começo eu passei tanto tempo dedicado a gerar conteúdo e tento opinar em 100% dos posts, que não vejo mais como alguém tocar o IB comigo. É muito particular, entende? O IB não é um blog de notícias de metal, é só um cara falando de som com os camaradas.

Mas não é por isso que não tenho colaboradores. Todo dia recebo muito conteúdo do pessoal do Twitter que segue o blog (vídeos, links com notícias ou downloads sobre bandas, etc). No MSN também, passo o dia todo online, então procuro responder a todo mundo. Às vezes atraso porque o Escritório Banger é só uma pseudo-Pasárgada. No dia-a-dia tô ali na lida de um trampo normal, hehe. Aliás, tento responder a todos que interagem com o IB no Twitter porque acho que essa é a parte mais legal do trampo todo.

Tirando a galera do Twitter, tem duas pessoas que são essenciais para o funcionamento do blog: uma é o Índio, o geograficamente isolado. É ele quem faz as traduções de textos e entrevistas e isso faz toda a diferença, os textos do cara são animais, ele acha umas palavras/termos que não sei de onde ele tirou, mas deixa tudo de um jeito muito foda. No Twitter rola todo dia de manhã um #bomdiadeathmetal, feito pelo Coroner, vocal do Infamous Glory, que manja para caralho do estilo e confio total no gosto e dedicação dele. Opa, tem mais dois no rolo todo: Carlos Rubio, camaradaço meu que é daqui e mora em Toronto e vez ou outra manda resenhas de shows por lá; e o Junera (ex-Infamous e agora comigo no The Black Coffins), que incansavelmente me manda links fodidos para postar.

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Me parece que o death metal era o assunto principal nas primeiras postagens, porém a cada dia mais e mais bandas de black metal, drone e outros estilos extremos aparecem no IB. Isso pode ser considerado uma mudança de rumos?

Na verdade já faz um tempão que isso aconteceu, e não me lembro como, haha. Eu não queria me tornar monotemático, certamente perderia o tesão logo. Também não queria me tornar um lugar comum e ser um blog correndo atrás de notícias ou de downloads.

Resolvi que faria a parada do meu jeito, com a minha linguagem do dia a dia e para falar de som como se tivesse num boteco falando com os camaradas. Então faria muito mais sentido falar de tudo o que eu curto a falar só de uma parte. A conversa e a bebida no boteco duram muito mais tempo, hahah.

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É notório que o IB não apenas estabeleceu uma base de leitores cativos, como também conquistou a confiança e atenção das bandas, inclusive de “nomes importantes” da cena. Você tem planos de expansão para o Intervalo Banger? Em que ponto você imagina que o blog estará em, digamos, dois anos?

Sim! Definitivamente acho que o IB, hoje, tem uma galera que curte pra cacete e segue. Aliás, queria aproveitar o espaço e dizer a todos que são uns fodidos! Vou explicar o porquê: uma vez, numa conversa, alguém me disse que o IB era o blog que ela “odiava amar”. Porra, achei animal ouvir aquilo, hahah. Geralmente, nego começa a seguir o blog hoje por causa de um post específico, mas no outro dia eu falo mal de alguma banda que ele curte, aí já sai xingando, mas no outro dia falo bem de outra banda que ele curte, e assim vai, hahaha. Tem uns que levam para o pessoal quando falo mal de alguma banda, quando muitas vezes alopro bandas que eu mesmo curto pra cacete também. Então eu acho muito massa ter o pessoal que entendeu qual é a do blog e acompanha.

Cara, como eu disse, tentei de certa forma “profissionalizar” o blog migrando para outras plataformas e tudo o mais, achando que poderia expandir o número de leitores com isso, mas não é o caso. Gosto de publicar no Tumblr, é fácil e rápido, e o conteúdo seria o mesmo se fosse em outros lugares. Não tenho intenção de ganhar dinheiro com o blog, gosto de ser livre para falar do que eu quiser, sem ter rabo preso com esse ou aquele.

Expandir o blog para mim implicaria em colocar banners na página, de repente procurar parceiros e patrocinadores e com isso ter que falar de bandas que não tô a fim. Certamente me exigiriam uma meta de visitas e aí cairia justamente onde não quero, por exemplo, ter que trocar um post sobre o Burning Witch por outro sobre o Sepultura. Espero daqui a dois anos fazer exatamente o que faço hoje: falar do som que eu curto para as pessoas que curtem.

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Sessão Maricotinha: qual foi o post mais visitado da história do blog? Qual foi o post que você mais ficou entusiasmado em publicar?

O post sobre a Marissa Martinez, cara! Definitivamente. Aliás, foi tão incrível a divulgação desse post que, meia hora depois da parada pronta, tinha vários Twitters de ONGs GLS dando RT, hahah. O número de visitas foi absurdo. O povo é tudo Maria Futrica, mesmo quem curte metal. Mas o primeiro que foi um estouro de visitas foi o do pseudo-Movimento Facada na Goela, fiz um flyer para trazer os caras pra cá e tudo mais. Foi a primeira vez que vi um número de visitas absurdamente alto. Um que chegou perto do post da Marissa foi a carta do Bernardo do Elma sobre o não-show com o Mombojó no Studio SP, mas foi um perto-longe, saca?

Os posts que mais me entusiasmam são as entrevistas. Eu sempre fico na expectativa de saber se as perguntas que mandei são boas, se o resultado vai ser bacana e tudo mais. É um lance que não depende só de mim, pode ser que o entrevistado responda em um dia (como o Mories do Gnaw their Tongues) ou 6 meses (como o Johan do Celeste). Tem aqueles que nunca respondem também, haha. Então, é uma puta expectiva. No geral eu procuro entrevistar bandas/pessoas que ainda não tiveram espaço para o público daqui, então acho que por ser coisa nova também, não se sabe como vai ser a resposta do pessoal que lê. E o sentimento é sempre o mesmo para cada entrevista.

Mas sendo ainda mais específico, a entrevista com o Vberkvlt na Revista +Soma foi definitivamente o ápice do entusiasmo. Inicialmente era uma entrevista para o blog. Ele, porém, demorou pra caralho para responder, e quando veio, achei o resultado tão massa que na hora liguei pro Leo (do extinto Life is a Lie) para falar que tinha conseguido e se o conteúdo interessaria aos caras da revista – por uma antiga conversa que tivemos sobre ter alguém do metal lá e tudo mais. As conversas começaram e eu tive que fazer todo a intermediação entre o Vberkvlt e a revista, então foi tenso, mas muito legal. O mais legal na verdade foi que o Vberkvlt não botou uma fé no resultado e no final, quando viu aquilo pronto, ele fez um post do caralho no blog dele elogiando o IB, a +Soma e eu. Foi do caralho!

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O que mais gosto no IB são as entrevistas. Você conseguiu produzir entrevistas de alto nível – por exemplo, com o Phurpa – e, ao mesmo tempo, mantendo um humor com altas doses de sarcasmo. Um equilíbrio difícil e, também, que destoa bastante das acéfalas entrevistas que em geral encontramos em sites e revistas metal. Como o típico fã de metal reage a isso? Sabemos que é uma cena pouquíssimo simpática a qualquer idéia inovadora, preferindo o culto a ídolos do passado e a supostas “tradições do metal”…

Aaaaaah, são seus olhos =^.^=

Eu acho que o típico fã de metal não se adapta à linguagem/conteúdo do IB se não tiver um mínimo de interesse em conhecer mais do que a mídia dita especializada tem a oferecer. Para falar a verdade, não é com esse cara que estou me comunicando, entende? Acho que o leitor do blog já tem mais referência musical. No começo eu usava na tagline do blog “Metal, mas não para principiantes” – claro que para provocar e questionar. Eu passo 90% do meu “tempo ocioso” – se é que lá eu consigo isso – buscando sobre música (baixando, lendo, comprando, etc). Isso se chama T.O.C, eu sei, mas sou assim desde moleque quando comecei a ouvir música e gosto de falar com gente que tenha o mesmo transtorno, hehehe. Então se nêgo vem ao blog buscando informação sobre banda que se acha facilmente na Rock Brigade e Roadie Crew, logo se dá conta que o IB não é bem o que ele procura.

A entrevista com o Phurpa foi uma parada muito foda! Não só pela banda, mas porque o Dmitry é gente finíssima. Até hoje batemos longos papos e o cara procura me mandar coisas novas dos projetos musicais dele, ou mesmo do Phurpa e dessa história toda ainda rolou dele fazer uma música tipicamente Phurpa especialmente para usarmos de intro em uma das músicas do The Black Coffins.

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Devido justamente a essa abordagem diferenciada, o IB já te rendeu alguma treta ou confusão?

Cara, rolou logo no começo do blog quando eu fiz os Top 10 por estilo, quando falei de doom e incluí o Teeth of Lions Rule the Divine (projeto do Stephen O´Malley com o Lee Dorian). O pessoal de um blog de downloads achou a escolha ruim. Rolou de um dos caras dar RT na lista enquanto um dos responsáveis pelo blog saiu dizendo que “um blog de respeito como o deles não poderia dar RT numa lista dessas”. Obviamente a tagline do Intervalo ficou Um blog de Respeito por meses, hahahahaha.

Achei do caralho primeiro por ver que a minha opinião incomodava, afinal o IB é um blog de opinião, uma hora ou outra isso ia acontecer. Outra por ver o quanto ainda tem idiotas se achando superior aos outros. A resposta veio com o tempo. Digo, ver o James do Facada tocando no Abril pro Rock com uma peita do IB; um cara como o Vberkvlt fazendo um post como fez elogiando a mim e ao blog; ter conhecido uma caralhada de gente massa através das entrevistas, tipo o Daniel Ekeroth (SWE Death Metal), Dmitry (Phurpa), Stevie (Dark Castle) e todos sempre dando feedback excelente sobre as entrevistas, dizendo que curtiram pra cacete, ter a galera que segue o blog e realmente acompanha a parada. Que fiquei com seus blogs de respeito e eu continuo sendo eu. HAIL SATAN!

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O que você costuma ler da imprensa especializada? Tem algum blog, revista ou jornalista, em especial, que você considera uma influência para o Intervalo?

Puta, sim! Com certeza. Leio muita coisa sobre o tema… mesmo livros e tudo mais. Revistas eu costumava comprar rios quando era moleque, depois passei a pegar algumas gringas que se tornaram até parte da minha coleção, inclusive um dos meus xodós aqui é uma Rocka-Rolla de 2006/2007, cuja capa é o Sunn O))) + Atilla em umas poltronas de cinema. Uma entrevista gigante onde eles comentam sobre todos os álbuns deles até o lançamento da época, o Sunn O))) / Boris – “Altar”, a cena deles, drones + doom metal e tudo mais. Espetacular e fora de catálogo já na época.

Mas para me atualizar passo o dia com meu Google Reader aberto. Aliás, se fechar meu e-mail e meu GReader durante o dia, podem chamar o Resgate.

Cara, um blog que me influenciou pra caralho foi o Metal Inquisition. O filho da puta era um gênio, mas passou a escrever pro Metal Sucks, um blog muito maior e parou com o M.I. Leio sempre os de notícia como a Blabbermouth e o The Deciblog,  e outros como o da Earache, 7inchcrust (só download do filé de D-Beat) e o próprio Metal Sucks. Tem mais um monte de blogs menores, mas acho que esses são o de maior volume de conteúdo.

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Ainda sobre metal, como você vê o atual cenário da música extrema no Brasil? A moda thrash metal lavou de vez a sanidade das pessoas e tudo o que existe é uma cópia mal feita dos anos 80?

A cena de música extrema no Brasil é mediocremente paternalista. As bandas, a mídia e a maioria dos envolvidos têm síndrome de derrotado e ostentam a doença com orgulho. Parece que abraçam o manto “Metal Nacional” para justificar a falta de competência. Tem nego tentando criar até Dia do Metal Nacional. Nenhum subterfúgio é justificável, aliás. Eu definitivamente sou contra levantar a bandeira do “underground” simplesmente por ser underground. Existem bandas excelentes, todas fazendo a sua parte e as coisas bacanas acontecem por conseqüência e não simplesmente porque você tem uma banda. Ter uma banda é a parte fácil, difícil é compor um bom material, investir numa boa gravação, fazer corre de shows, dar a cara à tapa.

Sobre a moda thrash especificamente, acho que já baixou bastante esse lance. Lembro que há um tempo era muito mais tenso, mas acho que hoje ficaram os que realmente acreditam e vivem o lance. Para mim é um pouco mais difícil falar disso porque o thrash é um dos pouquíssimos estilos do metal que não me atingiram como deveria, saca? Meu lance começou com Death Metal, foi amor à primeira vista, pedi em casamento e somos um casal feliz.

Obviamente não são excludentes, pelo contrário. Só que comigo não funcionou assim, dá pra notar pela quantidade de posts no blog sobre o tema. 5 no máximo. =)

Mas acho que a moda revivacionista tem seu valor, desde que tenha personalidade (e isso vale pra todos os revivals, death metal oldschool, grind, doom e so on). A maior parte do que eu ouço de thrash hoje em dia vem dessa leva: o Violator e o Municipal Waste (o Hazardous Mutation). Conheço bastante do estilo, ouço esporadicamente (o thrash alemão) e é uma dose suficiente pra mim. Can´t help the feeling.

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Vivemos uma época em que parece que tudo já foi experimentado e que todas as fórmulas se esgotaram. O metal está estagnado ou ainda há algum terreno a ser explorado? Qual foi a última banda que você ouviu que te deixou perplexo? Por quê?

Cara, essa é uma pergunta definitivamente capciosa. É engraçado pensar que você tem espaço para criar coisa nova e tem um puta campo a ser explorado, mas se a banda vai pouco além do que já foi estabelecido, toma pedrada. E no geral eu sou um dos que apedrejam (vide Morbid Angel novo).

Embora não pareça até porque o blog tá sempre louvando o death metal oldschool, doom metal inglês 90tista eu acho do caralho quando, por exemplo, descubro uma banda como o Ulcerate, que faz uma mistura de Neurosis com Death e Gorguts simplesmente espetacular e você pensa: “caralho, como não fizeram isso antes?”. O Dark Castle é outro puta exemplo, eles exploram escalas e estruturas completamente diferentes, uma timbragem fodida, sem precisar apelar. O Celeste e o Deathspell Omega na França também fazem um trampo único. Dá pra enumerar centenas de bons exemplos! Bandas com idéias novas, desde que sejam boas, são sempre muito bem vindas no rolê, pelo menos espaço tem.

A banda que mais me chocou nos últimos tempos foi o Phurpa. Alguém devia ter filmado minha reação quando vi um vídeo daquilo pela primeira vez. Acho que eles levam tudo o que a música representa para mim, sem precisar sequer de um amplificador. É extremamente pesado, denso, monolítico, fúnebre, opressor, hipnótico e mais uma caralhada de adjetivos que viraria a noite aqui listando. É definitivamente o som que eu gostaria de fazer, caso um dia eu tivesse a oportunidade de aprender e participar de alguma coisa assim.

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Você fez uma cobertura extensa e muitas vezes hilária do episódio da Marissa Martinez, a primeira transex do metal. Você acha que o metal, que sempre teve uma postura conservadora quanto às questões de gênero e sexualidade, está mais liberal hoje em dia?

O lance com a Marissa foi muito massa, porque antes de rolar a entrevista, eu mandei a primeira matéria que fiz com ela sobre todo o processo de mudança, as plásticas e tudo mais e ela curtiu pra cacete, disse que trabalha com um brasileiro que ia traduzindo o texto e ela achou hilário. Todas as vezes que precisei falar com ela, foi extremamente simpática e solícita… Eu já era um fã doente do Freakery do Cretin quando rolou o lance todo, então acompanhava o MySpace e tudo mais. Ver aquilo do nada foi muito chocante. Foi tudo do dia para noite… digo, não rolou uma transição pra travesti e/ou ficou afeminado. Foi morfando direto! hahahahah

Eu acho que a galera enxerga isso diferente hoje em dia. Olha o caso dela, continua na banda, se dedica ao grind para caralho, acabou de tocar no Maryland Deathfest, já tocou com o Repulsion, continua fazendo os mesmos rolês e é totalmente aceita e respeitada. Acho que tudo isso é porque ela é competente. Com osso ou sem osso no meio das pernas, no fim das contas é isso que conta: dedicação e competência. As pessoas certamente a enxergam como uma grinder, que lançou um dos melhores CDs de grindcore desde o Horrified do Repulsion.

Fora o lance com Gaahl. Ainda mais numa cena como é o Black Metal. Mas sobre aceitação do caso, é um exemplo, veja: hoje ele toca no excelente drone-based medieval/folk Wardruna com o Kvtrafn, criador da banda e ex-Gorgoroth/ex-Det Hedenske Folk, militante Nazi/White Pride de carteirinha. Definitivamente o mundo tá inacreditavelmente mais liberal! Hehehe

(Nota da Ugra: Gaahl foi vocalista do Gorgoroth, uma das mais bestiais realizações do Black metal norueguês. Em sua trajetória como frontman, o rapaz foi encarcerado algumas vezes por agressão, fez shows com cabeças de ovelha espalhadas pelo palco e gravou discos que figuram no panteão sagrado do estilo. Em 2008 assumiu que era homossexual, fato que causou ira em alguns fãs. Gaahl, entretanto, não se preocupou com isso, tanto que nas entrevistas cedidas posteriormente continua o mesmo avassalador e polêmico artista, dotado de um nível considerável de opinião e senso crítico.)

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Pra fechar: além de ganhar milhões com o IB, o que o Vakka faz?

Acho que posso ser considerado um incurável fazedor de coisas, cara haha. Eu sou Designer Gráfico, trabalho em uma agência de publicidade e quando não estou caçando coisa pro blog, tô pesquisando sobre design, ilustrações e afins. Agora comprei uma câmera para estudar fotografia que é uma parada que piro também, mas não tinha dedicado uma verba pra ter um equipo que pudesse estudar. Treino boxe há quase um ano e é outra parada que adoro. Colecionador incurável de livros (neste caso, além de colecionar, também sou leitor), cacarecos, peitas, CDs e vinis que curto. E quando não faço nada disso, tô aqui no Escritório Banger, vendo algum filme, especialmente de terror. Para fechar, sou vocal do The Black Coffins, uma banda que eu acho muito massa =).

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13 Comentários leave one →
  1. Gabriel permalink
    23/06/2011 14:48

    Que entrevista foda! Sempre acompanho o IB, e apesar de ser um adorador do Death Metal, acompanho principalmente pelos posts de Drone/Doom e outros sons mais experimentais, coisa que raramente se vê em outros sites/blog.
    O Vakka sempre aparece com uns materiais, principalmente vídeos, inacreditáveis e o humor realmente contagiante.
    Só não venha me falar que Funeral Doom é fofinho! Brinks – realmente as bandas mais ambient são fofinhas, de resto são a desgraça na terra.

    Ah, meu post favorito foi a entrevista com o Mories do Gnaw their Tongues, fudidaço!

    Parabéns pelo post.
    []’s

    • 24/06/2011 21:47

      hahaha Po, não acho Funeral Doom fofinho, eu sou maluco pelo estilo… Meu problema são os Shape Of Despair e Swallow the Sun da vida, no mais, atóron!

      Valeu pelo comentário man!

      Chifre pra cima

      • Gabriel permalink
        24/06/2011 22:45

        Shape of Despair é atmosférico pra carai, mas eu até curto, apesar de ouvir só de vez em nunca.
        Já o Swallow the Sun nunca curti, nem os considero Funeral Doom, além de ser comercial demais, mesmo os álbuns antigos são muito da pegada pra arrecadar umas moedas.

        É nóis Vakka.
        Horns up!

  2. Neto Death permalink
    23/06/2011 16:24

    Muito legal a entrevista!! Aliás, conheci o Ugra Press através do Intervalo banger!!!

  3. Bury permalink
    23/06/2011 17:12

    “A cena de música extrema no Brasil é mediocremente paternalista. As bandas, a mídia e a maioria dos envolvidos têm síndrome de derrotado e ostentam a doença com orgulho. Parece que abraçam o manto ‘Metal Nacional’ para justificar a falta de competência.”

    Aplausos!

  4. 24/06/2011 00:05

    “A cena de música extrema no Brasil é mediocremente paternalista. As bandas, a mídia e a maioria dos envolvidos têm síndrome de derrotado e ostentam a doença com orgulho. Parece que abraçam o manto ‘Metal Nacional’ para justificar a falta de competência.”

    Belas palavras!

  5. 24/06/2011 14:19

    O Wardruna é uma banda de música folk nórdica, só isso. Aliás, bem moderna, nada medieval.
    Não é sensato colocar um rótulo como drone para rotular qualquer banda com esse instrumentário e estrutura musical, que em nada é abstrata e estática.

    • Thiago permalink
      24/06/2011 21:37

      Na real é que as pessoas só entendem drone pós Sunn O))) e mal sabem oq é um drone.

    • Thiago permalink
      24/06/2011 21:39

      Vc não sabe oq é drone, né? Tipo, não reconheceria um se não tiver a idumentária Southern Lord, se pá. Ou não?

      Se sim, vc sabe o quer dizer quando alguém diz que Wardruna é drone.

      Abs.

    • 24/06/2011 21:54

      Hm, cara… se vc reler sobre o Wardruna, verá que eu não chamei rotulei de drone. Eu disse que era “baseada em drones”. O que são coisas completamente diferentes.

      No mais, se é medieval ou não basta ver os instrumentos que usam. E obviamente uma banda não precisa ser da idade média pra tocar som medieval, como sabemos, certo? Então sim, a banda é moderna.

  6. 24/06/2011 14:25

    No mais, bela entrevista. Horns up.

  7. 29/06/2011 18:58

    Conheci pessoalmente este sujeiro Vakka, rs. Gente finíssima e um debatedor de primeira quando o assunto é metal morte. O IB foi uma das melhores coisas q surgiram no cenário brazuca, é vida inteligente no metal 😀 \m/

    e o metaleiro médio num entende e nunca entenderá, tdo mal acostumado criado a Leite cum pera e Roadie Crew.

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  1. Mix Tape Especial: Drone «

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